quarta-feira, 21 de setembro de 2011

ERA PARMALAT



Muitos de meus leitores lembram, de forma saudosa, a famosa “Era Parmalat”, aqueles anos que entravamos não só para disputar um campeonato, sim para ganha-lo e sempre como franco favorito. Outros leitores nasceram nessa década e só ouviram dizer. Na década de noventa o Palmeiras fez uma bem sucedida parceria com a Parmalat, durante o tempo de duração desta parceria o Palmeiras conquistou títulos importantes e de forma que éramos absolutos, sem qualquer dúvida de merecimento ou de ajuda por parte dos árbitros. Mas nem tudo foi flores, se fosse hoje em dia tal parceria teria ruído muito facilmente. Os boatos e contatos com a tal parceira começou em 1992, a primeira noticia começou em 14 de fevereiro de 92, a Folha de São Paulo noticiou que: “O Palmeiras sonha em contratar Dener da Portuguesa. O dinheiro viria de um convênio com a multinacional Parmalat, que pode ser fechado hoje à tarde na Itália. Se não for possível a vinda do jogador para o Campeonato Brasileiro, os dirigentes esperam até o meio do ano”. Quem não se recorda, o Dener era em 92 mais ou menos o que o Neymar é hoje. O fato é que o Dener não veio, acabou fechando com o Vasco e falecendo logo em seguida em um acidente de carro. Imagina uma promessa dessa pronta para fechar com o Palmeiras e assina com o Vasco hoje em dia, acho que derrubariam o que sobrou do velho Palestra. No dia 18 de fevereiro, outra notícia pequena, talvez por anos e anos na fila ninguém mais dava “moral” ao Palmeiras. A matéria informava que ganharíamos U$ 500 mil ao ano, quase três vezes mais o que a Coca-Cola nos pagava na época. E segundo a matéria: "A curto prazo, o uniforme do Palmeiras será mudado e o nome da Parmalat será escrito na camisa. Nenhum novo jogador deverá vestir a camisa do Palmeiras nos próximos meses”. No dia seguinte saiu outra informação na mídia, o então presidente Carlos Facchina Nunes declarou que: “Hoje eu terei um encontro com diretores da Parmalat, mas posso te garantir que em menos de um mês nada acontecerá”. Agora pensem hoje em dia se o Tirone dá tal noticia, para agravar ainda mais o caos, vínhamos de uma fila de 16 anos, o então técnico Nelsinho Baptista estava tentando administrar uma crise interna entre Evair e Betinho. No dia 1° de abril de 1992 a Folha voltou a publicar, agora no dia da mentira, porem a melhor noticia que poderíamos ter: “Brunoro pode dirigir esportes no Palmeiras”, dizia a manchete. Segundo um trecho da matéria: “Pelo projeto, inédito no futebol brasileiro, Brunoro seria uma espécie de manager e ficaria responsável pelo futebol profissional, futebol do salão, vôlei e basquete”. Ao menos o Palmeiras estava em boas mãos, em mãos de profissionais que sabiam o que estavam fazendo e não de idosos com egos inflados. No dia 07 de abril os conselheiros se reuniram para analisar o acordo com a parceira. Discussões, debates e logo o acordo estava aprovado, só faltava ser assinado e seria dentro de pouco tempo. Digamos que esta reunião tivesse sido em 2011, o cenário de guerra estaria armado. Grupos opositores, organizadas fantasiadas de sócios, as figuras de sempre trabalhando contra, cada qual puxando “a brasa para a sua sardinha”, mais ou menos como fizeram com a nossa futura Arena. O ano de 1992, apesar de marcar o início da parceria, não foi um mar de rosas. O Palmeiras começou mal o Paulistão, Nelsinho foi demitido em 19 de agosto, após três derrotas e um empate em 0x0 com o Noroeste, e chamou os torcedores que fizeram pressão de covardes. Dois técnicos recusaram o clube, Candinho e Valdir Espinoza. Raul Pratalli, então técnico dos juniores, assumiu o time interinamente e sonhava com uma chance, que não veio. O Palmeiras acertou com Otacílio Gonçalves que chegou com grande pressão e com o discurso que: “O Palmeiras é um clube difícil”. Tem um trecho da matéria que é bom destacar, pois parece que cabe certinho no cenário de hoje: “Segundo o meia Daniel, uma profusão de forças negativas ronda o Palmeiras e levam os jogadores a proporcionar exibições ruins como a de sábado. Em conversas com jogadores e dirigentes, percebe-se que as tais forças negativas são, na verdade, o trauma da demissão de Nelsinho e a pressão das torcidas organizadas. Pode-se somar a isso a ausência de pelo menos um craque e também o jejum de títulos. Mas o que é o ovo e o que é a galinha?”. As tais forças negativas sumiram rapidamente a partir de 1993, pois foi feito um ótimo trabalho, com planejamento, choque de gestão e muito dinheiro, o que não temos nenhum dos três hoje. Coincidência ou não as “forças negativas” voltaram com a saída da Parmalat, em 2000, justo quando o clube voltou a andar com suas próprias pernas. No primeiro ano efetivo da co-gestão ganhamos o Campeonato Paulista, o Rio-São Paulo e o Brasileiro. Ano seguinte fomos bicampeões Paulista e bi do Brasileiro, façanha jamais igualada. Em 96, de forma avassaladora ganhamos o Paulistão com mais de 100 gols e apenas uma derrota. No ano de 1998 a Taça Mercosul e a Copa do Brasil. Em 99 o maior titulo de todos, a Taça Libertadores da América e o vice mundial. E no finalzinho da parceria a Copa dos Campeões em 2000. Tal parceria me deixou ver jogadores como Edmundo, Evair, Zinho, Rivaldo, Alex, Cesar Sampaio, Roberto Carlos, Cafu, Djalminha, Arce, Antonio Carlos... entre tantos outros honrando o manto. Para aqueles que duvidam de minhas fontes, quero dar o crédito ao Verdazzo, a Folha de SP, o site oficial do Palmeiras, a minha memória e aos recortes e revistas que guardo. Não pensem que o Palmeiras mudou muita coisa, estamos nas mesmas disputas políticas e picuinhas de década de 80, tivemos sorte de na década de 90 sermos geridos por outro grupo, por isso eu acredito bastante na Arena. Alguém ainda duvida que este cenário só irá mudar quando separarmos o clube do futebol e profissionalizarmos ambos?

Por mais que eu tentasse enxugar, hoje o assunto foi mais extenso. Agradeço a compreensão de todos e quem quiser me seguir no twitter: @M_Obeidi

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